O papel do dinheiro na sociedade é tão essencial quanto a própria gravidade, embora muitas vezes essa conexão crucial passe despercebida. Assim como a gravidade, o dinheiro opera em um contexto intrinsecamente ligado ao “espaço-tempo”, agindo como o veículo que transporta valor através dessa nossa dimensão. Quanto mais eficazmente um ativo desempenha essa função específica, mais bem-sucedido ele é como um dinheiro confiável.
O Ouro como reserva de valor
O ouro, com sua capacidade de manter valor ao longo do tempo (alto stock-to-flow), emergiu naturalmente como uma forma de dinheiro em várias civilizações ao redor do mundo, resistindo ao teste do tempo como um ativo monetário milenar. No entanto, à medida que a sociedade progredia, impulsionada pelo domínio dos combustíveis fósseis e pelo ganho energético resultante, o ouro revelava-se cada vez mais inadequado para transportar valor no espaço.
Do Ouro ao Petrodólar, a ruptura no Espaço-Tempo
Social e economicamente, as limitações espaciais do ouro (fácil censura, alto custo de armazenamento e transferência, etc.) o relegaram cada vez mais ao papel de reserva de valor. Ele não conseguiu acompanhar a crescente velocidade do dinheiro na sociedade, deixando de cumprir todas as funções que um dinheiro completo deve atender (reserva de valor, meio de troca e unidade de conta) e tornando-se um obstáculo para que o comércio operasse em seu máximo potencial (baixa escalabilidade). Nesse vácuo, as moedas governamentais, conhecidas como moedas Fiat, surgiram, explorando as falhas do ouro como meio de troca.
Esta dinâmica resultou em uma ruptura em nossa dimensão: “espaço-tempo”, e consequentemente, na organização de nossa sociedade, onde o ouro, juntamente com imóveis e outros ativos financeiros, preservavam valor, enquanto as moedas governamentais atuavam como meio de troca. Entre elas, o dólar assumiu também o papel de unidade de conta global, pois equilibrava comparativamente bem essas duas dinâmicas anteriores, além de ser amplamente aceito graças ao arranjo conhecido como Petrodólar.
Bitcoin, a Correção da Ruptura Espaço-Tempo
No entanto, em 31 de outubro de 2008, nasceu o Bitcoin e com ele um novo paradigma. A humanidade tinha descoberto a escassez absoluta e pela primeira vez na história enfrentava a possibilidade de ter o dinheiro como parte de um sistema monetário fechado. A força da “gravidade” presente nessa nova tecnologia passaria a ser cada vez maior, lembrando verdadeiramente um buraco negro. Desmaterializando todo o valor/trabalho ao nosso redor e convergindo toda essa riqueza (energia monetária) nesse único ponto, o próprio Bitcoin (ciberespaço).
Por não poder ter sua oferta arbitrariamente alterada ou manipulada (como no caso do ouro, imóveis, moedas governamentais), ser digital (como as moedas fiduciárias) e incensurável, o Bitcoin voltou a atender a todas as funções necessárias a um dinheiro confiável e começou a absorver para si toda a energia monetária existente, corrigindo assim a anterior ruptura de nosso “espaço-tempo” socioeconômico e nos trazendo a esperança de encontrarmos um futuro onde o dinheiro é capaz de nos guiar através das leis divinas (termodinâmica) e não por meio da lei dos homens (Keynesianos e positivistas).